ALL WE NEED IS LOVE?

Medo de se apaixonar, apps de encontros,mind games da paquera, (in)fidelidade, poliamor… Em tempos de imediatismo e muita ansiedade, ele. o amor, segue imbatível. Será? Respostas do dossiê sentimental a seguir 

Pense num rapaz, que acabou de levar um pé na bunda da namorada. Os amigos, todos dispostos a ajudar, o arrastam até uma festa onde, possivelmente, ela estará. Mas, surpresa! O boy se apaixona à primeira vista por outra convidada. Ele chega nela. Os dois conversam, passam a noite juntos e ele acorda com a certeza de que ela é “A” MULHER DA VIDA DELE. Bem, dias depois, o casal descobre divergências pesadas entre as famílias. O problema é que o relacionamento já está tão forte que, mesmo a contragosto dos pais, eles resolvem oficializar a união e fugir para outro país. O que ninguém esperava era que a impulsividade dele ao resolver a questão põe tudo a perder e os dois decidem morrer a ter que viver separados.

Adaptações à parte, o enredo de Romeu e Julieta (se lembrou agora né?!), de William Shakespeare, “continua sendo o maior paradigma da história de amor de todos os tempos” – pelo menos segundo o historiador e professor titular da FAAP (SP), Martin Cezar Feijó. Mesmo em épocas complexas – impressão nossa ou está difícil achar gente disposta a se envolver de verdade? –oficializar a união não é coisa apenas de livro ou filme romântico. Em 2017, segundo o IBGE, 1.070.376 brasileiros cisgêneros se casaram de papel passado no País. No grupo das pessoas de mesmo sexo, o número cresceu 15,1% entre as mulheres e 3,7% entre os homens. “Todos nós nascemos desejando pertencer, ser parte de algo, estar contido em um projeto maior, com mais significados. Desejamos nos relacionar e conquistar sonhos que tenham propósito em na nossa cultura, casamento e família têm esse valor” , explica Paula Emerick, terapeuta de casais, neuropsicóloga e fundadora da Solace Institute (RJ). E se você está solteira e de identificou com o desejo acima…

VAI DAR MATCH

Saiba que o caminho até o amor passa (também!) pelos aplicativos. Uma estimativa realizada pelo site de relacionamentos eHarmony* mostrou que cerca de 70% dos casais terão se conhecido por meio de apps ou sites de namoro até 2040. Outra pesquisa, do Pew Research Center (EUA), aponta que o número de pessoas entre 18 e 24 anos que utiliza essas plataformas triplicou entre 2013 e 2016. É fato e não fake: Tinder e Happn são ótimos para escolher quem vale a pena conhecer. Mas há controvérsias. No livro Amor On-Line (Globo Livros), a jornalista Coles defende o antigo olho no olho como ferramenta de conquista.

“O namoro on-line dá a ilusão de que namorar é fácil. A verdade é que não existe como saber se alguém é um bom par em três segundos(…) Parece contraintruitivo neste mundo hiperconectado e super-rápido, mas são nesses momentos ‘esquisito’ em que estamos nos conhecendo, em lugares da vida real, que o amor começa a florescer”, escreve Joanna. De fato, a contemporaneidade e a tecnologia transformaram tudo (incluindo as relações). “Vemos condutas fugazes, transitórias e superficiais. Há o estímulo por recompensas imediatas, inclusive nas escolhas dos parceiros, perpetuando ansiedade e imediatismo”, diz a terapeuta Paula. E como é que ficam os acordos de fidelidade nesse cenário?

EM DOIS (OU MAIS!) ATOS

No conforto das quatro paredes do consultório da dra. Paula, o questionamento mais frequente entre os casais-pacientes é o medo de ser trocado(a). “O xis da questão está na conduta egoísta. Cada um quer que suas necessidades individuais sejam atendidas primeiro e ficam numa espécie de queda de braço para ver quem recebe mais”, afirma. “O egoísmo traz instabilidade, brigas, ciúmes e, claro, possessividade.”

Em Casos e Casos – repensando a infidelidade (Editora Objetiva), Esther Perel escreve que o desejo de posse e de controle é, ao mesmo tempo, fome de amor e perversão do amor. “Por em lado, queremos instigar o parceiro a voltar para nós. Mas não queremos que ele volte só por obrigação: queremos nos sentir escolhidos. E sabemos que o amor que é privado de liberdade não é amor.”

A produtora-executiva Isabella Saldanha, de 26 anos, entendeu isso. Há dois anos, ela aposta em um relacionamento políamor: namora o Felipe e o Gabriel – que são amigos (e sócios), mas que não namoram entre si. “Fui monogâmica por muito tempo, mas há cinco anos, quando eu e o Felipe nos mudamos para São Paulo (eu sou do Rio de Janeiro e ele, de Natal), fomos taxados como casados (estamos juntos desde os meus 16 anos), o que me trouxe um incômodo gigantesco”, conta. “Num certo dia, saímos, bebemos muito e beijamos outras pessoas. Aquilo não foi um problema para o relacionamento. Na verdade, tirou um peso. Conversamos sobre o políamos, que já pesquisávamos, e resolvemos tentar.” Funcionou. “Percebi que somos induzidos a pensar na relação monogâmica e heterossexual como a única possível, por isso não enxergamos outras formas de amor,”

Pesquisa da consultoria youGov** mostrou que 69% das mulheres e 52% dos homens defendem exclusivamente a monogamia. Para os demais, medidas não monogâmicas são bem-vindas. De qualquer maneira, encontrar um amor para chamar de seu é o desejo de três em cada quatro solteiros brasileiros***. Obstáculos: o medo de se envolver, os traumas passados, a comunicação difícil por meio das redes (veja quadros). Nada não contornável. Afinal, all we need is love. É, né?

Fonte: Revista Glamour